Monteiro Lobato

"Um país se faz com homens e livros"


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FALA SÉRIO!

Thalita Rebouças é uma escritora,segundo ela, muito "fofa".
As meninas gostam muito de seu jeito de escrever.
E de sua personagem central Maria de Lourdes ou Malu, para os íntimos.
Para maiores detalhes acompanhem seu site:http://www.thalita.com/
Pegando carona na literatura descontraída, escolhi esta crônica, charmosa, desta escritora pop das adolescentes.



Morte às espinhas


Um belo dia vi, do nada, minha testa ser invadida por quatro, cinco, seis caroços horrendos. Antes mesmo que eu me desesperasse, o queixo ganhou uns dois caroços daqueles e, por fim, exatamente na ponta do meu nariz, uma pipoca medonha apareceu e me transformou num verdadeiro monstro.
— Você tá igual à bruxa má da Branca de Neve! — disse Alice, suuuperfofa.
— Precisa de uma limpeza de pele! — alertou Duca.
— Você conhece alguém para me indicar? — perguntei.
— A minha mãe tem uma esteticista ótima.— Ainda bem que ela vai ficar com a pele boa de novo, eu não aguentaria olhar pra Malu desse jeito por muito tempo. Cê tá muito, muito feia mesmo! — aliviou Nanda.
— Bom é que você não espremeu. Dizem que é pior. A pele vai ficando toda marcada e ganha aquele aspecto de areia mijada, sabe?
— Mas é verdade, a pele fica toda furadinha e...
— Já sei, não precisa repetir!
Não tive outro jeito a não ser ligar para a Cecília, a esteticista da mãe da Duca. Nunca tinha feito limpeza de pele, achava coisa de madame.
Mas eu não podia virar um monstrinho justamente naquele momento, quando o Saulo, um gatiço do terceiro ano, estava começando a reparar em mim.
Era muita injustiça.
— Vai doer um pouco, você sabe, né? — avisou Cecília, antes de dizer oi.
— Não! Ninguém me disse que dói.— Mas dói. E a pele depois fica bem marcada, machucada. Você vai sair daqui com o rosto vermelho, mais empolado do que está, mas é normal.
Amanhã acordará ótima, pode confiar em mim. Agora deita.
Quase não deitei. Quis sair correndo. Fiquei com medo da Cecília.
Mas a vaidade falou mais alto e eu deitei.
Ela começou passando um líquido cheiroso na minha pele.
“Nada dolorido, isso é relaxante, isso sim”, pensei.
Fechei os olhos, achando que a Cecília era uma exagerada.
Mas, em pouco tempo, vi que não tinha exagero nenhum.
Depois de passar creminhos ásperos, gosmentos e fedorentos, começou a espremer as pobres das minhas espinhas com muita, muita raiva delas.
— Aaaaaaaiiii!!! — berrei com todas as minhas forças.
— Que é isso? Para ficar bonita tem que sofrer, não sabe?
Deixa de frescura! Morte às espinhas! — gritou.
Após uma hora de tortura, saí de lá com a cara toda vermelha, inchada, ardendo, as pipocas transformadas em crateras vulcânicas, uma delícia. Parecia a prima do Frankenstein.
Na rua, no ponto de ônibus, esbarro com quem?
Com o Saulo, claro. Tentei me esconder olhando para o chão, mas ele me viu.
E levou um susto que mal conseguiu disfarçar.
— Malu? É você mesmo?
— Arrã — respondi, ainda olhando para os pés.
— O que aconteceu? Foi picada por um enxame de abelhas?
— Não, fui fazer uma limpeza de pele, amanhã meu rosto volta ao normal
— disse, morta de vergonha.
— Ufa! Ainda bem! Um rosto bonito desses não merece ficar assim.
Vibrei por dentro.
Saulo, o rosto mais lindo da escola, achava que o meu é que era bonito!
Que sonho!
Pegamos o mesmo ônibus e nem vimos a hora passar falando, claro, de espinhas e do problema que elas representam para os adolescentes.
Assunto supermaduro.
Viva as espinhas!

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